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.Mas isso não muda nada; devemos chamar a polícia.O estrangeiro deve serum bandido, alguém com a cabeça a prêmio, que está tentando esconder aqui o produtode seu roubo. Que tolice! disse a mulher do prefeito. Se fosse assim, ele procuraria sermais discreto. Nada disso vem ao caso.Devemos chamar a polícia imediatamente.Todos concordaram.O padre serviu um pouco de vinho, para que os ânimosserenassem.Começaram a combinar o que diriam à polícia, já que, realmente, nãotinham qualquer prova contra o estrangeiro; era bem possível que tudo terminasse coma senhorita Prym sendo presa por incitar um crime. A única prova é o ouro.Sem o ouro, nada feito.Claro.Mas onde estava o ouro? Só uma pessoa o havia visto, e ela não sabia ondeestava escondido.O padre sugeriu que formassem grupos de busca.A dona do hotel abriu a cortinada sacristia, que dava para o cemitério; mostrou as montanhas de um lado, o vale láembaixo, e montanhas do outro lado. Precisaríamos de cem homens, durante cem anos.O dono das terras lamentou silenciosamente que o cemitério tivesse sidoconstruído naquele lugar; a vista era linda, e os mortos não precisavam daquilo. Numa outra ocasião, quero conversar com o senhor a respeito do cemitério disse para o padre. Posso oferecer um lugar muito maior para os mortos, perto daqui,em troca deste terreno ao lado da igreja. Ninguém iria querer comprá-lo, para morar num lugar onde antes estavam osmortos. Talvez ninguém da cidade; mas existem turistas, loucos por casas de veraneio, eé só uma questão de pedir aos habitantes de Viscos que não comentem nada.Será maisdinheiro para a cidade, mais impostos para a prefeitura. O senhor tem razão.É só pedir a todos que não comentem nada.Não serádifícil.E, de repente, fez-se o silêncio.Um longo silêncio, que ninguém ousava quebrar.As duas mulheres ficaram olhando a vista, o padre passou a lustrar uma pequenaimagem de bronze, o dono das terras serviu mais um gole de vinho, o ferreiro tirou erecolocou o cadarço de ambas as botas.O prefeito olhava a todo minuto o relógio, comoque insinuando outros compromissos.Mas ninguém se mexia; todos sabiam que a cidade de Viscos jamais comentarianada, se houvesse alguém interessado em comprar o terreno que abrigava o cemitério;fariam isso apenas pelo prazer de ver mais uma pessoa morando na cidade queameaçava desaparecer.Sem ganhar um só tostão pelo silêncio.Imaginem se ganhassem.Imaginem se ganhassem dinheiro suficiente para o resto de suas vidas.Imaginem se ganhassem dinheiro suficiente para o resto de suas vidas, e da vida deseus filhos.Naquele exato momento, um vento quente, absolutamente inesperado, soproudentro da sacristia. Qual é a proposta? disse o padre, depois de longos cinco minutos.Todos se voltaram para ele. Se os habitantes realmente não disserem nada, acho que podemos seguir adiantenas negociações respondeu o dono das terras, escolhendo cuidadosamente aspalavras, de modo que pudesse ser mal interpretado ou bem interpretado,dependendo do ponto de vista. São pessoas boas, trabalhadoras, discretas continuou a dona do hotel,utilizando o mesmo estratagema. Hoje mesmo, por exemplo, quando o entregador depão quis saber o que estava acontecendo, ninguém disse nada.Acho que podemosconfiar neles.De novo o silêncio.Só que desta vez era um silêncio opressivo, impossível dedisfarçar.Mesmo assim, o jogo continuou, e o ferreiro tomou a palavra: O problema não é a discrição dos habitantes, mas o fato de saber que é imoral,inaceitável, fazer isso. Fazer o quê? Vender uma terra sagrada.Um suspiro de alívio percorreu a sala; agora podiam partir para a discussão moral,já que o lado prático tinha avançado bastante. Imoral é ver nossa Viscos decadente disse a mulher do prefeito. Terconsciência de que nós somos os últimos a viver aqui, e que o sonho de nossos avós,dos ancestrais, de Ahab, dos celtas, vai terminar em alguns anos.Em breve tambémestaremos deixando a cidade, seja para um asilo, seja para implorar aos nossos filhosque cuidem de velhos doentes, estranhos, incapazes de se adaptar à cidade grande,saudosos daquilo que deixaram, tristes porque não souberam ter a dignidade de entregarpara a próxima geração o presente que recebemos de nossos pais. Tem razão continuou o ferreiro. Imoral é a vida que levamos.Poisquando Viscos estiver quase em ruínas, estes campos serão simplesmente abandonadosou comprados por uma ninharia; máquinas chegarão, estradas melhores serão abertas.As casas vão ser demolidas, armazéns de aço substituirão aquilo que foi construído como suor dos antepassados.O campo terá uma agricultura mecanizada, as pessoas virãodurante o dia e retornarão de noite às suas casas, longe daqui.Que vergonha para anossa geração; deixamos que nossos filhos partissem, fomos incapazes de conservá-losao nosso lado. Precisamos salvar esta cidade de qualquer maneira disse o dono das terras,que talvez fosse o único a lucrar com a decadência de Viscos, já que podia comprartudo, antes de revender a qualquer grande indústria.Mas não estava interessado ementregar, a preço abaixo do mercado, terras que podiam conter uma fortuna enterrada. Algum comentário, senhor padre? perguntou a dona do hotel. A única coisa que conheço bem é a minha religião, onde o sacrifício de uma sópessoa salvou toda a humanidade.O silêncio desceu pela terceira vez, mas foi rápido. Preciso preparar-me para a missa de sábado continuou
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