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.A partir daquela noite, começou a ensinar-lhe a escrita de Biblos.161Os dias se transformaram em semanas, e Akbar ia mudando suaface.O garoto aprendeu a desenhar as letras rapidamente, e já conseguia criarpalavras que faziam sentido; Elias encarregou-o de escrever em tabletes de barro ahistória da reconstrução da cidade.As placas de barro eram cozidas num forno improvisado,transformadas em cerâmica, e arquivadas cuidadosamente por um casal de idososNas reuniões no final de cada tarde, ele pedia para que os velhos contassem o quetinham visto na infância, e registrava o máximo de histórias Guardaremos a memória de Akbar, num material que o fogo nãopode destruir, explicava. Algum dia, nossos filhos e netos saberão que a derrotanão foi aceita, e que o inevitável foi ultrapassado.Isto pode servir de exemplo paraeles.Toda noite, depois dos estudos com o garoto, Elias caminhava pelacidade deserta, ia até o começo da estrada que conduzia até Jerusalém, pensava empartir, e desistia.O trabalho pesado obrigava-o a concentrar-se no momentopresente.Sabia que os habitantes de Akbar contavam com ele para a reconstrução; jáos decepcionara uma vez, quando fora incapaz de impedir a morte do espião - eevitar a guerra.Mas Deus sempre dá uma segunda chance aos seus filhos, e precisavaaproveitar a nova oportunidade.Além disso, afeiçoava-se cada vez mais ao menino, eprocurava ensinar-lhe não apenas os caracteres de Biblos, mas a fé no Senhor e asabedoria dos seus ancestrais.162Mesmo assim, não esquecia que, em sua terra, reinava umaprincesa e um deus estrangeiro.Não havia mais anjos com espadas de fogo; estavalivre para partir a hora que quisesse, e fazer o que bem entendesse.Todas as noites, ele pensava em ir embora.E todas as noites, elelevantava as mãos para o céu e orava: Jacó lutou durante a madrugada inteira, e foi abençoado aoamanhecer.Eu tenho lutado contra Ti por dias, por meses, e Te recusas a me escutar.Se olhares a Tua volta, porém, saberás que estou vencendo: Akbar sobe de suasruínas, e torno a reconstruir o que Tu , usando as espadas dos assírios, transformasteem cinzas e pó. Lutarei contigo até que me abençoes, e abençoes os frutos do meutrabalho.Um dia terás que me responder.Mulheres e crianças carregavam água para o campo, e lutavamcontra a seca que parecia não acabar nunca.Um dia, quando o sol inclementebrilhava com toda a sua força, Elias escutou alguém comentar: Trabalhamos sem parar, já não lembramos mais as dores daquelanoite, e esquecemos mesmo que os assírios retornarão assim que terminarem desaquear Tiro, Sidon, Biblos, e toda a Fenícia.Isto nos fez bem. Entretanto, porque estamos muito concentrados na reconstruçãoda cidade, parece que tudo continua igual; não vemos o resultado de nosso esforço.Elias refletiu algum tempo sobre o comentario.E passou a exigirque, no final de cada dia de trabalho, as pessoas se reunissem no pé do Monte Cinco- para contemplarem juntas o por-do-sol.Estavam geralmente tão cansados que quase não trocavam palavra.mas descobriam como era importante deixar o pensamento vagar sem rumo, como163as nuvens do céu.Desta maneira, a ansiedade fugia do coração de todos, econseguiam recuperar a inspiração e força para o dia seguinte.164Elias acordou dizendo que não ia trabalhar. Hoje, na minha terra, comemoram o Dia do Perdão. Não há pecado em sua alma , comentou uma mulher. Voce temfeito o melhor possível. Mas a tradição precisa ser mantida.E eu a cumprirei.As mulheres partiram levando água para os campos, os velhosvoltaram a sua tarefa de erguer as paredes e trabalhar a madeira das portas e janelas.As crianças ajudavam a moldar os pequenos tijolos de barro, que mais tarde seriamcozidos no fogo.Elias contemplou-os com uma imensa alegria no coração.Emseguida, deixou Akbar e dirigiu-se ao vale.Caminhou sem rumo, fazendo as preces que aprendera na infância.O sol ainda não se levantara completamente, e - da posição onde estava - ele via agigantesca sombra do Monte Cinco cobrindo parte do vale.Teve um pressentimentohorrível: aquela luta entre o Deus de Israel e o deus dos fenícios ainda ia seprolongar por muitas gerações - e muitos milênios.Lembrou-se que certa noite ele subira até o topo da montanha, , econversara com um anjo; desde que Akbar fora destruída, porém, ele nunca maistinha escutado as vozes que vinham do céu
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